Partir de Salta rumo a San Antonio de los Cobres é embarcar em uma das jornadas mais autênticas pelo norte da Argentina. São mais de três horas de estrada que atravessam paisagens desérticas, vilarejos quase escondidos entre montanhas e ruínas que contam histórias de milhares de anos. Um roteiro que não se resume ao destino final, mas que se revela a cada curva da cordilheira.

Deixando para trás a atmosfera colonial de Salta, o cenário começa a se transformar. As ruas movimentadas dão lugar a estradas solitárias, ladeadas por montanhas de tons avermelhados que parecem pertencer a outro planeta. O clima, sempre imprevisível, alterna entre sol intenso e nuvens que chegam de repente, lembrando que estamos em um território de contrastes, onde a altitude molda cada detalhe da experiência.

E depois de uma aventura na província de Salta, a expedição Caminos del Desierto partiu rumo a San Antonio de los Cobres em parceria com a Secretaria de Turismo da Província de Salta. Confira a experiência abaixo.

Como é San Antonio de los Cobres?

Aos pés do Cerro Terciopelo, San Antonio de los Cobres oferece uma paisagem sem igual! A cidade está a mais de 3700 metros de altitude e é considerado um dos povoados mais altos da Argentina. A 168 km da província de Salta, seu clima seco torna o ambiente desafiador, mas também único. Suas ruas de terra batida e casas simples revelam a resistência de uma comunidade que mantém vivas tradições ancestrais. 

O acesso pode ser feito de carro particular, pela Ruta Nacional 51, ou por excursões organizadas que partem diariamente de Salta. O trajeto combina trechos asfaltados e de rípio, exigindo atenção redobrada ao volante. A estrada, no entanto, é um espetáculo por si só, repleta de mirantes e povoados que pedem uma pausa para contemplação. 

Esse povoado também é ponto para conhecer o lendário Trem das Nuvens, que corta a região até o Viaduto La Polvorilla e oferece uma experiência inesquecível! Até chegar nesse destino, você ficará encantado com outras cidades da região, como Santa Rosa de Tastil e suas ruínas que marcam o sítio arqueológico. 

Primeira parada: El Alfarcito

A primeira parada do trajeto é El Alfarcito, um pequeno povoado a 2800 metros de altitude. O lugar ficou conhecido graças ao trabalho de Sigfrido Maximiliano Moroder, o padre Chifri, que fundou uma escola de ensino médio rural, possibilitando o acesso à educação para jovens de mais de 25 comunidades andinas.

Mas no dia 23 de novembro de 2011, aos 46 anos, o padre Chifri morreu deixando seu legado imensurável. Seus restos mortais descansam na igrejinha de El Alfarcito. E além da escola, há um centro cultural e uma capela, mas o que realmente encanta é a atmosfera acolhedora e preservada que o povoado mantém. 

Muitos viajantes param em El Alfarcito para tomar café da manhã, provar comidas típicas e visitar feiras artesanais, onde é possível encontrar mantas e roupas de lã de lhama, cerâmicas e alimentos produzidos na região. É o primeiro contato direto com a cultura local antes de seguir adiante.

Segunda parada: Santa Rosa de Tastil

Mais adiante está Santa Rosa de Tastil, um dos pontos mais surpreendentes da viagem. É considerado um dos sítios arqueológicos mais conservados do mundo, descoberto em 1903, na região de Salta. Entre os anos 1300 e 1400, a região chegou a abrigar cerca de 2500 habitantes andinos, tornando-se uma das maiores ocupações humanas pré-colombianas.

As ruínas espalhadas a mais de 3000 metros de altitude ainda revelam ruas, casas e muros construídos com pedras encaixadas com perfeição. Caminhar por ali é como viajar no tempo. O museu arqueológico local reforça essa imersão, exibindo ferramentas, tecidos e objetos que narram o modo de vida dos antigos povos.

Para os curiosos, é possível contratar guias que levam visitantes a pinturas rupestres escondidas na região. Vale lembrar, no entanto, que esse passeio só acontece em dias de semana, já que aos domingos os guias não estão disponíveis.

No trajeto, a antiga mina Concórdia aparece silenciosa, mas ainda impressiona por seu valor histórico. Saiba que tem subidas bastante íngremes na cidade e Santa Rosa de Tastil está em uma altura de mais de 3 mil metros, é só caminhar tranquilamente e tomar bastante água que dá para realizar o trajeto.

Para chegar a Santa Rosa de Tastil, a melhor forma é alugar um veículo e sair bem cedo de Salta ou de Campo Quijano, cidade da grande Salta que está mais próxima de Santa Rosa.

Parada final: Trem das Nuvens e Viaduto La Polvorilla

Seguindo viagem, o viaduto La Polvorilla surge como um colosso em meio ao deserto de altura. Parte do percurso do Trem das Nuvens, essa obra de engenharia a mais de 4000 metros de altitude é considerada uma das mais impressionantes da América do Sul. Ver seus arcos cortando o vazio das montanhas é um momento que ficará marcado na memória de qualquer viajante.

Após esse trajeto, finalmente, San Antonio de los Cobres se revela em meio à aridez do altiplano. Apesar de pequeno, o povoado preserva tradições fortes. Os visitantes podem explorar feiras locais, adquirir artesanato em lã de lhama e alpaca, e degustar pratos típicos como locro, empanadas e guisados preparados com milho e batata andina. Para quem tem tempo, vale dormir uma noite no vilarejo e viver a experiência de estar imerso no coração da cordilheira.

Quando ir e o que saber antes da viagem

A melhor época para visitar San Antonio de los Cobres é entre maio e setembro, durante o inverno andino, quando as temperaturas são baixas, mas o clima seco favorece a viagem. Nos meses de verão, entre dezembro e março, as chuvas podem dificultar o acesso.

É importante estar atento à altitude, que pode provocar sintomas de mal-estar em alguns viajantes. Levar água, manter-se hidratado e caminhar devagar ajudam o corpo na aclimatação. Também é recomendável viajar com roupas em camadas, já que as temperaturas variam bastante entre manhãs geladas e tardes de sol intenso.

Confira toda a experiência no segundo episódio da expedição Caminos del Desierto.